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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Múmia egípcia de 2,5 mil anos é identificada no interior do RS

Múmia pode ser visitada na PUCRS — Foto: Édison Hüttner/PUCRS.


A cabeça de uma múmia que integra o acervo de um museu no interior do Rio Grande do Sul foi identificada como de uma mulher egípcia, que viveu há 2,5 mil anos. A múmia de Iret-Neferet estava no Centro Cultural 25 de Julho, em Cerro Largo, Noroeste do Rio Grande do Sul, há mais de 30 anos, sem que ninguém soubesse sua origem.

Segundo o professor Édison Hüttner, que participa do grupo de pesquisadores da PUCRS e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) que estuda a peça, é a primeira descoberta de uma múmia egípcia no Brasil no século 21. Em 1995, estudiosos da área identificaram a múmia Tothmea, em Curitiba, que está resguardada no Museu Egípcio e Rosacruz.

Depois do incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, são os dois únicos exemplares de múmias egípcias conhecidas no país, salienta o professor. A tragédia acabou destruindo seis múmias que haviam sido compradas pela família imperial.

"O Egito tem nas múmias suas raízes mais profundas", observa o professor, ressaltando a importância da descoberta.

Hüttner conta que encontrou a cabeça quando esteve no Centro Cultural, em 2017, em busca de materiais para outra pesquisa: a que identificou a imagem de São Nicolau, um dos mais antigos exemplos de arte missioneira do Rio Grande do Sul. "Também tem estátuas missioneiras no museu. Estando por ali, vi a cabeça e pensei que poderia ser uma múmia", lembra.

O pesquisador comenta que viu semelhanças entre a cabeça e outras múmias que ele havia visto no Museu do Louvre, em Paris, e no Museu do Vaticano. Ao iniciar a pesquisa, começou a levantar informações que possibilitaram a confirmação da origem.

O primeiro passo da pesquisa foi submeter a cabeça a uma tomografia, exame que já ajudou a identificar outras peças históricas no estado, no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul. "Vimos ali um detalhe especial, que vendo ela de fora não era possível enxergar", diz o professor Hüttner, sobre a constatação de que foi colocado no crânio um olho artificial, como faziam os egípcios antes de embalsamar seus mortos.

A peça é composta por rocha e seda. "Ela fica iluminada, como se fosse vidro", diz. A descoberta deu origem ao nome da múmia: Iret-Neferet significa "olho bonito" em egípcio antigo. O professor comenta que evidências, como as faixas características das múmias egípcias e um buraco acima do nariz, usado para remover o cérebro, já demonstravam a origem da cabeça.

Análise dentária para estimar a idade

A múmia é de uma mulher de meia idade, com aproximadamente 40 anos, descoberta possível através da análise de um dente encontrado na cabeça, como explica o professor.

O dente foi removido e enviado a um laboratório nos Estados Unidos, que reconstituiu o que seria a arcada dentária da mulher egípcia, e calcular a idade aproximada dela. Iret-Neferet viveu entre o final do Período Intermediário III (1070-712) e o início do Período Tardio (712-332 a.C.) do Egito.

Conforme os resultados de um exame de radiocarbono, a múmia deve ter cerca de 2,5 mil anos.

Próximos passos

A pesquisa das origens de Iret-Neferet seguirá, conforme o professor Hüttner. Agora serão analisados fungos e bactérias encontrados na cabeça, para acrescentar mais dados à identidade dela.

Os pesquisadores também tentarão descobrir a linhagem da múmia, que o professor Hüttner suspeita que possa ter ligação com nobres egípcios. Na Alemanha, há pesquisa de sequenciamento do DNA para tentar chegar a esse resultado. Material deverá ser enviado para lá.

Presente de um egípcio

A cabeça que por anos ficou resguardada ao museu no interior do Rio Grande do Sul foi doada por um morador de Cerro Largo, entre o fim dos anos 1970 e o início dos 1980. Hüttner conta que Marcelino Kuntz entregou a peça pouco antes de morrer de câncer.

Ele, por sua vez, havia ganhado a cabeça de um amigo, que era egípcio, durante uma passagem pelo Rio de Janeiro, na década de 1950, conforme informações repassadas pelo museu. A identidade do egípcio não é conhecida, nem como ele conseguiu a múmia.

"Ele [Marcelino] era um intelectual, tinha conhecimento sobre vários assuntos. Ganhou [a cabeça] nos anos 50 e ficou com ela por todo esse tempo. Morou em São Luiz Gonzaga, Santa Rosa, outros municípios. A múmia sempre acompanhou ele", diz Hüttner.

Kuntz era amigo de Guido Henke, um dos membros do museu que trabalhou na criação do acervo. "Ele ofereceu a múmia, Guido fez uma reunião com a associação [do museu] que decidiu que a acolheriam. Ela estava em uma prateleira simples, dentro de uma caixa de vidro, com uma manta por cima", descreve o pesquisador.

A cabeça de Iret-Neferet pode ser vista na Biblioteca Central Irmão José Otão, no Campus Central da PUCRS, de 11 de junho a 28 de julho, gratuitamente. Além da múmia, estarão expostos objetos e símbolos utilizados nos rituais de mumificação egípcios, proveniente dos museus Egípcio e Rosacruz de Curitiba, no Paraná, e de Arqueologia Ciro Flamarion Cardoso, em Ponta Grossa, também no Paraná. A mostra contará ainda com imagens da história do Egito e banners com conteúdo produzido pelos pesquisadores.

Dimensões da múmia

Cabeça: 21 cm de altura, 19 cm de largura, 21 cm de comprimento, 1.726.47 kg.

Olho: altura: 2,5 cm de largura: 2,6 cm de comprimento, 7.34 gramas.

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