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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Sentindo-se um arqueólogo: confira o diário de egiptólogos espanhóis em Assuã.

O site EL MUNDO publicou a matéria "Egipto, mucho más que faraones" na qual acompanharam egiptólogos espanhóis escavando em Assuã. 


Vista de la necrópolis de Qubbet el-Hawa, en Assuã

Aqui traduzi algumas partes... entretanto peço que leiam a matéria na íntegra (em espanhol) que é muito mais emocionante. O link para a matéria se encontra ao final do texto.

A escavação acontece em Qubbet el-Hawa e logo cedo o pessoal da escavação se prepara para começar o trabalho.

Caminham pelo deserto até chegar ao sítio arqueológico. A equipe é liderada por Alejandro Jiménez Serrano e Juan Luis Martínez de Dios. A sepultura a ser escavada é a QH33. O complexo funerário onde está essa sepultura pertence à nobreza do Reino Antigo e Médio Império (2600-1750 a.C.).

Cada campanha no sítio arqueológico dura cerca de seis semanas, durante a qual trabalhadores egípcios são contratados para fazer o serviço pesado da escavação. Todo o trabalho é supervisionado por um inspetor que as autoridades designam para as equipes para verificar se o plano vem sendo desenvolvido conforme o planejado e para assegurar que nenhuma peça foi roubada.

Em 2008 foi descoberta uma câmara funerária intacta e esse ano o material encontrado será restaurado. Vários poços também serão cuidadosamente examinados. Uma tarefa que exige paciência e, de acordo com Yolanda de la Torre (arqueóloga), é a parte mais chata.

A restauradora Catalina Calero e Teresa López-Obregon não são suficientes para reparar os caixões e as peças encontradas. Algumas bastante danificadas pela ação de cupins e ratos.

A tumba QH33 foi construída em 1800 a.C., provavelmente, pelo irmão de Ameny -Seneb, um governador no sul do Egito, para abrigar um mausoléu da família, que pode ter abrigado originalmente 10 pessoal, porém foi saqueada e reutilizada. O período de ocupação, que propiciou o enterro de pessoas de vários níveis sociais, está compreendido entre 850 a.C. e 550 a.C., afirmou Jimenez .

No local escavado, não há grandes tesouros, mas o estudo da tumba e do ambiente é importante para compreender a sociedade egípcia. O local do sítio teve importância estratégica e comercial para o Egito pois fazia fronteira com a Núbia (atual Sudão). Esse local fazia o comércio com outras populações do deserto e da África, porque nessa região que ocorria a entrada de incenso , mirra, ouro, marfim, madeiras raras como o mogno, penas de avestruz, peles de leopardo, óleos, perfumes e pessoas.

Nessa região também viviam misturas de etnias como atesta a decoração de entrada do túmulo do governador Herjuf (2200 a.C.)

Na parte da investigação forense, o antropólogo físico forense Miguel Botella afirma que a equipe estuda as causas da morte e as doenças que eles sofreram e que as doenças infecciosas atingiam principalmente as crianças. Ele afirma também que o rio Nilo permitiu a população sobreviver em meio ao deserto mas o rio tinha muita poluição causada pelas infecções. Nos adultos eram encontradas poucas fraturas e traumas, porém muitas doenças degenerativas, desnutrição ou processos infecciosos e a presença de malária.

De vez em quando, na escavação, encontram-se surpresas, como peças de marfim, madeira, prata e bronze colocadas entre uma das múmias. As autoridades egípcias são muito rigorosos e é proibido retirar qualquer amostra ou remover restos do local. Para os estudos forenses, às vezes é permitido fazer raio-X.

Sonia Romon , que é a responsável por catalogar e armazenar os materiais escavados disse que  ainda resta muito para ser descoberto e preservado no Egito. Os arqueólogos estimam que acaba de vir à luz entre 20% e 30% dos restos do Antigo Egito. Mas, para especialistas estrangeiros também é uma prioridade restaurar e preservar o patrimônio para evitar a deterioração. Por exemplo, a arquiteta da Universidade de Granada, Mari Paz SáezPérez  colocou retângulos de gesso nos túmulos para monitorar a suas condições e como preservá-los.

As químicas Maria José Ayora e Ana Domínguez trouxeram da Universidade de Jaén um espectrômetro portátil de Raman  e com ele analisam os pigmentos usados ​​pelos egípcios nas suas belas pinturas. Através dessa técnica é possível analisar quimicamente os pigmentos de modo não invasivo, isto é, sem necessidade de retirar amostras ou de tocar na superfície. O seu principal inimigo são as térmitas, que produzem compostos orgânicos que podem mascarar o sinal recebido pelo laser e complicam a identificação dos materiais.

A especialista em madeiras, Oliva Rodríguez, instalou seu microscópio petrográfico em outro túmulo. Com este instrumento ela investiga quais árvores eram utilizadas para fabricarem os caixões e estatuetas. Com a antracologia, que é o ramo de Oliva, é possível também reconstruir o clima e a biodiversidade do antigo Egito
Os fotógrafos Cristina Lechuga e Raúl Fernández colocam seu estúdio improvisado para fotografar os objetos que saem constantemente poços.

Ao meio-dia o calor aumenta. Embora o termômetro marque 32°C, com a umidade, a sensação térmica é de  40ºC. Próximo ao túmulo de Sarenput II, famoso por suas pintura, o egiptólogo José Manuel Alba Gómez e Ana Belén Jiménez, refugiam-se do calor sob uma tenda, o primeiro analisando as cerâmicas e a segunda desenhando-as.

Na parte da tarde, o trabalho continua na casa, em um quarto equipado como um escritório. No final todos se reúnem para partilhar os progressos realizados por cada um, discutir os resultados e se preparar para o dia seguinte. Participar de uma escavação arqueológica no Egito é um privilégio para eles, porém não recebem remuneração pelo seu trabalho. A situação de alguns egiptólogos não melhora no resto do ano, muitos ficam desempregados ou não têm empregos relacionados à egiptologia. Em campanhas anteriores, ainda tiveram que pagar do próprio bolso as passagens aéreas.

Para Miguel Botella, a mais importante descoberta durante suas campanhas no país do Nilo têm mostrado que "o mito de que a civilização egípcia era rica e opulenta e viveu bem em todos as faixas sociais não é verdadeiro. Exceto para aqueles que governaram, as pessoas geralmente moravam no limite da sobrevivência e muitos morriam", diz ele. "Se somarmos o excesso de trabalho duro, temos esses monumentos maravilhosos, mas às custas de baixa qualidade de vida das pessoas."

A matéria original encontra-se em http://www.elmundo.es/ciencia/2014/05/06/53678bc922601d624f8b456c.html?a=0c583989e02c12e6dd19cc59c303e275&t=1399352424 e eu recomendo a todos que leiam, vejam as fotos e o video.

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